Cae la tarde
: Galeria Luisa Strina
Ladrilhos, cidade, passo, pés, campo, terra
piso
metros, ladrilho, terra.
ladrilho, cidade, uniões, cimento, cal.
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tapete, quilômetros.
paredes terra estacas, tapete.
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portas.
quarto, paredes, cal, pintura
porta
cadeira mesa, quadros, copos, garrafas, paredes, piso.
continuação, casas, rua
terra, vaso, quartinho, mão, escrivaninha.
minutos, terra
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pé terra, escuridão
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árvore, folhas, cores.
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árvore, terra, tronco madeira sombra, luz, folhas
folhas, árvore, luz
criado-mudo, quarto.
porta, calçada, paredes, endereço, casa, amigo
Ricardo Carreira (“Poemas”, Editorial Atuel, 1996)
Cae la tarde propõe a repetição como método de ocupar as formas e a espera como modo de produção de pensamento. Um estado da mente que encontramos num bar, durante a siesta ou no trânsito lento, ali onde os signos se comprimem em geometrias e durações habitáveis e onde as opiniões se localizam nas bordas de atividades mais visíveis como sublinhar um jornal, quebrar um objeto ou jogar cartas.
As obras aqui não se mostram estáticas, nem totalmente acabadas, mas abertas à orquestração dos detalhes que nelas vão aparecendo e que acabam configurando uma paisagem zenital num momento intermédio do dia, nem muito tarde, nem muito cedo. Uma zona de deriva especificada no poema do argentino Ricardo Carreira, traduzido em ideogramas por um software que Accinelli desenvolveu em 2013, e em porcas hexagonais que citam o sistema usado em Stalker, de Tarkovsky, para identificar radioatividade no ar.