Transparências: Mira Schendel

Apresentação

No ano que marca o 50º aniversário da galeria, Luisa Strina tem o prazer de anunciar a abertura da exposição Mira Schendel: Transparências, uma abrangente mostra da renomada artista. Mira Schendel (1919-1988) foi uma figura pioneira na arte latino-americana, que trabalhou com Strina nos anos 1980, onde teve exposições em 1981 e 1983.

 

Organizada por Olivier Renaud-Clement em colaboração com a família Schendel e Hauser & Wirth, Mira Schendel: Transparências apresentará uma ampla seleção de Monotipias de Schendel produzidas entre 1963 e 1965, além de uma série de objetos escultóricos em acrílico produzidos no final dos anos 1960 e 1970. A exposição é acompanhada, ainda, por um ensaio inédito do Curador Chefe do Museo del Barrio de Nova York, Rodrigo Moura.

 

As mais de cinquenta Monotipias apresentadas na mostra oferecem um panorama da abordagem experimental e inovadora de Schendel. Cada peça revela sua meticulosa exploração da textura, forma e translucidez, em um jogo sutil de luz e sombra. As monotipias foram extremamente experimentais na época de sua criação. Sua feitura envolve a aplicação de pó de talco em um dos lados do papel de seda japonês, que é então colocado sobre uma chapa de vidro previamente oleada. Schendel então "desenhava" com vários instrumentos, incluindo seus dedos, aplicando pressão no lado não oleado. O processo criava uma linha orgânica que quase parecia parte do papel e permitia a Schendel responder gestual e caligráficamente ao material. Essas marcas gráficas, letras e manchas resultaram em desenhos extraordinariamente belos e poéticos em ambos os lados do papel, os quais são mostrados na galeria em prateleiras retroiluminadas que preservam sua transparência.

 

Nas obras seguintes de Schendel, a transparência se apresenta como o catalisador da experiência do espectador com o corpo e a visão. Ela começou a usar acrílico, o qual, suspenso no ar, permite que a imagem e o plano se desdobrem em dois: para ver através e para uma "leitura circular em que o texto é o centro imóvel, e o leitor é móvel", como afirmou a artista. Essas formulações deram origem aos Objetos gráficos (1967-1973), nos quais folhas de papel são sobrepostas para criar quadrados onde o jogo de cheio e vazio amplifica o signo gráfico entre o silêncio e o ruído através da repetição e alterações na escala. Suspensas por fio de nylon, as obras da série Transformáveis são compostas por pequenas tiras de material transparente articuladas para evocar a sensação de mutabilidade e jogo. As obras giram no ar, projetando sombras e reflexos em constante mudança.

 

Também incluídas na exposição estão obras da série Discos do início dos anos 1970, onde Schendel começou a criar objetos escultóricos usando acrílico e letraset. Sintetizando a experimentação formal das Monotipias, este conjunto de obras continuou a abraçar ideias espirituais sobre o "outro lado" da transparência, um lugar onde outros mundos e outras formas de materialidade existiam. Os discos redondos são feitos de lâminas de acrílico sobrepostas. Eles envolvem turbilhões de letras e símbolos em letraset, legíveis mas composições intraduzíveis. Aqui também, a linguagem é vista como uma espécie de poeira cósmica, informe e infinita.

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