Vulneravelmente Humano: Clarissa Tossin
Vulneravelmente Humano, exposição individual de Clarissa Tossin, propõe um diálogo entre os conflitos civilizatórios da contemporaneidade e as fronteiras da extinção.
As obras sinalizam a vulnerabilidade de todos os organismos vivos à medida que a humanidade continua extraindo recursos do planeta sem tempo hábil para reposição. Para o escritor e antropólogo Pedro Cesarino, que assina texto de apresentação da mostra, "para que um projeto artístico consiga reagir aos dilemas contemporâneos, torna-se cada vez mais indispensável estabelecer formas de interlocução que criem alternativas às matrizes estéticas ocidentalizadas. Afinal, é esse diálogo que permitirá oferecer pontos de vista sobre os impasses civilizatórios nos quais estamos todos envolvidos."
A obra Vulneravelmente Humano no.2, que nomeia a mostra, levanta a discussão sobre como a humanidade busca explorar os recursos naturais que se encontram em corpos celestiais, como a lua. A roupa de astronauta, projetada para proteger humanos no espaço sideral, é frequentemente usada para demonstrar o triunfo da humanidade sobre os desafios de um ambiente futurístico inóspito. Já a roupa de astronauta de Tossin, age ao contrário, parece espectral, flácida e frágil. Feita de silicone misturado a pó de meteorito, o uniforme deixou de ser uma barreira contra os perigos do Espaço para tornar-se uma esponja para seus componentes materiais. O uniforme evoca também o desejo de encontrar abrigo e recursos no Espaço, como um refúgio para quando todos os recursos da Terra se esgotarem.
Já a série de tapeçaria O 8º Continente, 2021, foi inspirada na pesquisa de Clarissa Tossin a respeito do Acordo da Lua, um tratado adotado pelas Nações Unidas em 1979. O acordo determina que o ambiente da Lua e de outros corpos celestiais “não deve ser afetado” e declara seus recursos naturais “patrimônio comum da humanidade”. Em 2015, porém, o Estados Unidos aprovou uma lei legalizando a mineração espacial, criada para expandir o extrativismo dos recursos naturais pelas grandes corporações para além de seus domínios originais na Terra.
Entre as obras presentes na exposição, também estão Fatalidade do Aquecimento Global, Geografia Futura, o filme colaborativo Mojo’q che b’ixan ri ixkanulab’ / Antes de que los volcanes canten / Before the Volcanoes Sing, Elemento Valioso e Devir Mineral — série produzida durante a quarentena usando sobras de cerâmica que registram estas delicadas representações do rosto da artista em estado de desaparecimento parcial.