Taking Sides: Brian Griffiths + Frank Kent

Apresentação

“Faço esculturas porque elas se estabelecem no mundo conosco, como nós. São inanimadas e, ainda assim, nos definem. O ser e as coisas parecem sempre misturados. Estou interessado em como pensamos sobre as coisas e como as coisas pensam. No ateliê, negocio entre o que quero e aquilo que as coisas precisam. Isso geralmente se compara com uma espécie de sitcom. Considero a escultura um ato social, uma investigação social, um tipo de narrativa coletiva rebelde. Estou interessado na maneira como minha escultura se diferencia de objetos em geral, em circulação como mercadorias, e com quais relações e valores essa diferença estabelece. Faço uma arte que é cheia de contradições, falibilidade e sentimentos – algo que é inesperadamente cansado, como uma alternativa para o brilhante e novo, recém-saído da caixa. Estou fazendo um lugar para nós, para o humano.” [Brian Griffiths, 2019]

Taking Sides, a quarta exposição individual do artista com a Galeria Luisa Strina, apresenta duas séries diferentes de trabalhos: No No to Knock-Knocks, versões de um personagem escultórico de Brian Griffiths, e AIR SIGNS, uma série de fotografias de Brian Griffiths em parceria com o artista Frank Kent.

No No to Knock-Knocks é uma figura tragicômica: um macho caucasiano nu assemelhado a uma marionete, que parece não saber que suas cordas – se alguma vez o seguraram – foram decisivamente cortadas. Careca, cego e com sua pintura cor-de-rosa e corpo de madeira mostrando sinais de desgaste, este pequeno performer interpreta o seu papel aos tropeços.

Em seu livro Puppet: An Essay on Uncanny Life (2011), Kenneth Gross escreve que “o boneco serve como um embaixador ou peregrino do mundo das coisas para os seres humanos”. É um objeto “que tem uma educação, que aprendeu a agir”. Os não-tão-bonecos de Griffiths são performers ambíguos, provocando riso ou simpatia. Objetos materiais, em vez de corpos vivos, estão fadados a subir ao palco, apesar da implausível rigidez de sua atuação, a comunicar-se apenas por meio de sua própria matéria aborrecida.

Em Taking Sides, esse personagem aparece divertindo-se, tirando uma soneca ou talvez se fingindo de morto; pontuando o espaço como uma história em quadrinhos em que pouco acontece. Esse impulso para desacelerar, para demorar-se, pode ser lastreado em tradições da dramaturgia do absurdo, em particular na obra de Samuel Beckett, em que a ação tende a estacionar. Este pequeno personagem também tem um toque de artista de vaudeville – interpreta a comédia de pastelão com grande brio e consegue evocar tanto charme como pathos.

As posturas do “boneco” e sua fixação rudimentar falam de seu potencial de improvisação; essas obras de arte admitem a perspectiva de sua própria reformulação. Seu tempo parece expansivo, sua situação, mutável; no entanto, esse arquétipo de “homem comum” está perdido e cego acerca de sua situação e dos problemas de tais ideias universais automáticas – e artificiais.

Brian Griffiths e Frank Kent compartilham um ateliê, eles dividem o estúdio exatamente no meio, eles tomam partido. Fizeram juntos obras fotográficas chamadas AIR SIGNS. Estas são uma série recente de esculturas que são apresentadas por meio da fotografia. É uma colaboração que apresenta objetos de seu estúdio e, ocasionalmente, da vida dos artistas.

AIR SIGNS valoriza a abordagem improvisada de arranjos formais e a celebração da vida e da arte. Objetos são exibidos, posicionados e colocados em ação dentro de um cubo de madeira. Essa recorrente estrutura formal achata as três dimensões e direciona o foco, cria um espaço para isolar e examinar as coisas do dia-a-dia. O palco de veludo torna-se uma superfície dramática e ostensiva que sustenta os objetos enquanto acompanha incontrolavelmente a luz e a atividade. Essas imagens oscilam satisfatoriamente entre documento e sonho, a razão e a intuição; silenciosa e insistentemente elas sugerem ideias estranhas, pensamentos distorcidos ou balões de texto como os de história em quadrinhos.

Essas imagens também estabelecem estrutura e ordem – enquanto objetos, ações e o próprio processo fotográfico, tentativas de romper. Assim como todas as molduras ou fronteiras, elas privilegiam e ignoram (tomando partido de novo) – apresentando UM mundo e não O mundo, admitindo que a realidade não é algo exterior, mas algo que compomos a cada momento, com uma constante interpretação, de fato e ficção, objetiva e subjetiva.

Estes trabalhos estabelecem um diálogo histórico com outras esculturas fotografadas, como Involuntary Sculptures, de Brassaï, as radiantes fotos de estúdio de Brancusi, fotografias de Peter Fischli & David Weiss de equilíbrio de objetos do cotidiano (Série Equilibrium), imagens de objetos cotidianos de Gabriel Orozco (como Cats and Watermelons, 1992), Marcel Broodthaers (como Daguerre’s Soup, 1974). A prática de Griffiths sempre negociou as histórias e as linguagens da escultura e seu duplo, o objeto – o artista adota a posição de que a escultura não pode mais significar algo específico, mas sim indicar uma objetividade polimorfa.

Brancusi articulou o estúdio em torno de groupes mobiles (grupos móveis), por meio de categorias de escultura, bases e pedestais. Griffiths e Kent criam estratégias de agrupamento mais relaxadas e abertas, em que as abordagens podem ser reconfiguradas diariamente. Isso resulta em imagens mudando de atitude, do literal e óbvio ao magicamente obscuro; na fotografia Power, History and Comfort (2019), todas as cadeiras do estúdio dos artistas são agrupadas. Por meio deste arranjo simples, o trabalho passa a falar de diferentes espaços, atividades (trabalho e lazer) e períodos do Design; em Germany to Spain, England back to Germany (2019), uma série de objetos verdes estão alinhados, e o título mapeia absurdamente as origens dos objetos; em European Magic (2019), uma bicicleta voa pelo estúdio iluminado pelo anoitecer.

Installation Views