Marepe b. Nasceu em 1970, Santo Antônio de Jesus, Brasil
Vive e trabalha em Santo Antônio de Jesus

A série dos Embutidos, de Marepe, começou em 1999 e conheceu desdobramentos complexos desde então. O Embutido Recôncavo - Recôncavo Embutido (2003), por exemplo, foi apresentado na Bienal de Veneza do ano de sua produção.O artista afirma, em declaração de 2012, que a obra de 1999 foi um marco em sua trajetória porque, "na virada do século, as preocupações sobre o destino do Brasil faziam parte de minhas ansiedades. Meus estudos sobre Hélio Oiticica me estimulavam a criar algo que falasse sobre a moradia, tendo como referência as favelas brasileiras e todos os improvisos para se morar. Tentei encontrar soluções através da racionalidade para um espaço mínimo, em que um espaço único se transformasse e se multiplicasse em todos os cômodos comuns de uma casa: quarto, sala, cozinha, área de serviço, banheiro. A solução foi embutir todos os móveis e utilitários nas extremidades da construção, deixando um vão único no centro. Mesmo que seja encarado como uma utopia falar de soluções em temas tão complexos, como a moradia, naquele momento era minha contribuição e todo meu esforço em relação a essa questão. De lá pra cá o Brasil mudou muito e as ansiedades são outras para o país, mas considero que este trabalho ainda é atual. Havia um desejo que esta ideia de casa fosse popular e que seu desenho original pudesse ser reproduzido, estando a disposição para quem desejasse construir". Seguiram-se o Embutidinho, versão miniaturizada do Recôncavo Embutido, como se fora sua maquete, o Embutido Sanfona (2013) e os Embutidos da série Arquitetura Aérea, iniciados em 2016, entre outros. Esta série faz referência à arquitetura por meio do uso de métodos construtivos de gaiolas e referências à arte concreta brasileira. As arquiteturas embutidas, objetos vazios que tocam na questão da liberdade e da natureza, constituem uma espécie de utopia aerodinâmica de projetos de casas suspensas. No Embutido Mexerica (2012), apresentado na exposição individual de Marepe na galeria em 2021, o artista usa o mesmo princípio construtivo, o de uma arquitetura que se desdobra no espaço, podendo ser vivenciada em sua forma compacta ou toda expandida, abordando mais uma vez a precariedade brasileira associada ao exercício de uma racionalidade do improviso sem igual.